Fiz tudo que pude quando tava encarnada, meus fios. Vivi uma vida sofrida, mas eu tentava enxergar beleza no meio de toda tempestade que eu enfrentava. A vida foi sofrida, pois num tinha condições boas dentro de uma senzala, não tinha direito nenhum de fazer nada sem que mandassem. Via meus irmãos morrendo de tristeza, de revolta, de cansaço e de tanto apanhar. Mas o chicote não era o que mais doía não, meus fios, aguentar dor do corpo é muito mais fácil que aguentar dor da alma.
Cuidei de muito irmão com erva, com reza, com amor. Encontrei minha fé no meio da lama, e me apaguei nisso pra sobreviver dia após dia.
Não culpo ninguém pelo meu sofrimento, num consigo guardar rancor, nem mágoa. Talvez seja difícil pra ocês encarnado entender, mas depois do desencarne, depois de entender sobre evolução, a gente entende que evoluir tá sempre acompanhado de perdoar.
Sem perdão não tem crescimento espiritual, não tem liberdade, não tem caminhada boa.
De tudo de ruim, tirem uma coisa boa pra ocês. A vó num tá falando que não vai sofrer, que não pode chorar, isso vai acontecer quer ocês queira ou não. Mas não ficar parado deixando sofrimento tomar conta, esbravejando sem sair do lugar. Quando alguém te ferir lembra que a pessoa tá traçando a caminhada dela, e não a sua. Então sofre, chora, mas segue. Seu caminho é seu, encontra sua fé no meio da lama e prossegue.
Cuida dos seus, mas cuida de ocê também. Limpa o coração de sentimento ruim, assim como ocês limpa todo dia o corpo carnal.
Oxalá abençoe!
(Vovó Catarina de Angola - transcriação de Umbanda na Alma)
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