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*UMA EXPLICAÇÃO SOBRE QUIMBANDA* 𝑃𝑜𝑠𝑡𝑎𝑑𝑜 𝑛𝑜 𝑔𝑟𝑢𝑝𝑜 𝑈𝑚𝑏𝑎𝑛𝑑𝑎 𝑑𝑒 𝐴𝑙𝑒𝑔𝑟𝑖𝑎 ✨👳🏼♀️🕯️ _INTRODUÇÃO_ O assunto Quimbanda é um dos mais recorrentes nos encontros e nos grupos de estudos sobre a religião Umbanda e religiões afro-brasileiras. Há que se destacar que, uma palavra, em qualquer língua, pode ou não ter diversos significados diferentes entre si. Muitas vezes, é o contexto do discurso que outorga o real sentido empregado por aquela palavra naquele momento. Por exemplo, qual o significado de sinistro? Depende de seu contexto. Caso estejamos em contato com um representante de uma agência de seguros, sinistro será sinônimo de evento que gerou prejuízo. Se estivermos conversando com adolescentes é provável que sinistro tenha a conotação de espantoso, assustador ou até mesmo muito interessante. Não é a palavra em si que dará o significado verdadeiro empregado e sim, a palavra associada ao contexto. NETO (2012, p. 25s) informa que existem diversas escolas umbandistas. CUMINO (2011, p. 83s) explica que temos a Branca, a Popular, a Pura, a Tradicional, a Esotérica dentre outras. Cada uma destas escolas possui uma liturgia, uma ética e uma cosmogonia que lhe são próprias “...mas a essência de todos é a mesma, e, no caso da Umbanda por exemplo, todas são legitimamente denominadas umbandistas” . Elucidaremos a origem e as variações de significado desta palavra dentro do contexto umbandista. *QUIMBANDA E KIMBANDA* Quimbanda é uma palavra da língua portuguesa. Kimbanda é uma palavra de origem africana. Uma deriva da outra. A palavra quimbanda (língua portuguesa) tem origem na palavra kimbanda, que faz parte da língua quimbundo, a língua falada pelo grupo etnolinguístico denominado banto (também encontrado com a grafia bantu). Diz o Dicionário Brasileiro da Enciclopédia Mirador do ano de 1979:“Quimbanda, s.m. (quimbundo kinbanda). 1. Grão-sacerdote do culto banto, ao mesmo tempo médico, feiticeiro e adivinho. 2. Charlatão, curandeiro, mágico. 3. Feitiço. 4. Local de macumba; terreiro”. Pela definição deste dicionário, quimbanda tem vários significados. Primeiro, é o grão-sacerdote do culto banto. Grão-sacerdote é o principal sacerdote de uma religião. O grão-sacerdote da igreja católica é o Papa. Como as religiões afro-brasileiras não possuem uma unidade central, o grão-sacerdote é o próprio dirigente espiritual do terreiro. É quem outorga a palavra final sobre um assunto e é aquele que define como o ritual deve acontecer. É o maior grau hierárquico do terreiro. Para o dicionário mirador, este sacerdote é, ao mesmo tempo, médico, feiticeiro e adivinho. O segundo significado de quimbanda seria o de charlatão, curandeiro, mágico que, ao nosso ver, sequer poderiam estar em um mesmo patamar de significação. O compilador da enciclopédia quis dar o mesmo significado de charlatão para o curandeiro e para o mágico retirando qualquer credibilidade ao verbete. O terceiro significado seria o de feitiço. Aqui, o significado se desvincula de uma pessoa e passa a tratar de um ato, o feitiço. O quarto e último significado também se desvincula de uma pessoa passando a designar o local de culto, o terreiro. Para nós, estudiosos de Umbanda e dos cultos afro-brasileiros, apenas o primeiro significado é cabível. Para LOPES (Novo dicionário Banto do Brasil), o significado de feiticeiro, na língua quimbundo, é outro: mujoli. O termo quimbanda serviria apenas e unicamente para designar o sacerdote ou o médico que cura por meio do ritual. Ramos afirma que em Angola, existe uma diferença entre Kimbanda Kia Diamba, ou seja, o evocador de espíritos e o Kimbanda Kia Kusaka, ou seja, o médico que cura por meio do ritual religioso. Diz TRINDADE que, em algumas regiões de Angola há a distinção entre o Nganga ou Ganga (derivado de Ngana, senhor), que é o sacerdote, do Quibanda (sem “m” mesmo), que é o feiticeiro. Afirma ainda que o Kimbanda faz ponte entre os Makungu (ancestrais divinizados), os Minkisi (espíritos sagrados da Natureza assemelhados aos Orixás da cultura banto) e os seres humanos.Notamos claramente nas exposições acima que o povo banto diferenciava e ainda diferencia o feiticeiro do sacerdote. O feiticeiro, na cultura banto, é tido como agente especializado. Desempenha papel na vida particular do indivíduo trabalhando com objetos tidos como mágicos a fim de atingir o objetivo daquela pessoa atendida. Já o sacerdote serve a uma comunidade como um todo e é o líder espiritual de um determinado grupo. Edmundo Pellizari, em seu clássico texto intitulado Quimbanda e Kimbanda, diz que Kimbanda significa “curandeiro” na língua quimbundo. O ofício do kimbanda chama-se umbanda. Kimbanda e Quim¬banda se confun¬dem, mas são cultos distintos e com objetivos dife¬rentes. Diz que: “O kimbandeiro é um membro ativo de sua comunidade, um doutor dos po¬bres e intérprete dos espíritos da Natureza. Ético, ele sempre trabalha para o bem, a paz e a har¬monia. O quimbandeiro é um feiticeiro. Nor¬mal¬mente vive afastado, não se envolve social¬mente”. Há um ponto de preto-velho, especificamente para Pai Antônio, que indica a atuação do kimbanda: “Dá licença, Pai AntonioQue não vim lhe visitarEu estou muito doenteVim pra você me curarSe a doença for feitiçoPula lá em seu congaSe a doença for de DeusPai Antonio vai curar!Coitado de Pai AntonioPreto Velho curadorFoi parar na detençãoPor não ter um defensorPai Antonio é KimbandaÉ curador!É Pai de mesa (bis)É curador (bis)Pai Antonio é KimbandaÉ curador! Veja que, neste ponto, o kimbanda é médico (curandeiro) e também sacerdote (Pai de mesa). Podemos dizer que este ponto possui clara influência banto. Outro ponto que fala sobre o kimbanda:“Eu fui no mato,Oh, ganga!Cortar cipó,Oh, ganga!Eu vi um bicho, Oh, ganga!De um olho só, Oh, ganga”! Como já visto acima, ganga é o sacerdote. Ganga vem de Ngana. Ganga é o kimbanda. O kimbanda de angola, cujo ofício chama-se umbanda, pratica o bem. Em um momento é tratado como o médico e, em outro, como o sacerdote. Em nenhum momento percebemos o kimbanda angolano como um agente causador de discórdia e desgraça. Trindade, porém, afirma que Quimbanda é um culto afro-brasileiro de influência banto permeado pela magia negra europeia e que a Kimbanda pode ser interpretada como a polaridade executora da Lei – A paralela passiva da Umbanda. Dá como sinônimo de Quimbanda a bruxaria oferecendo sentido de trabalho espiritual de baixo nível moral e ético. Indica como relação de suas afirmações a obra de Matta e Silva. Em consulta ao livro Segredos da Magia de Umbanda e Quimbanda de Matta e Silva constatamos na página 52, ao discorrer sobre a mediunidade inconsciente: “Esses raros aparelhos inconscientes – simples veículos ou “cavalos”, estão mais condicionados aos ambientes mediúnicos inferiores, assim como os terreiros de quimbanda, ou seja: a essa mistura humana de “candomblé e umbanda” com seus rituais confusos e espalhafatosos, barulhentos etc”. Percebemos claramente que o autor categoriza a Quimbanda como um culto de qualidade inferior e confusa. Uma mistura de Candomblé e Umbanda. Já no livro Umbanda do Brasil, o mesmo autor afirma que a Kimbanda é comandada por Exus Guardiões e que constituem a paralela passiva da Umbanda. Contudo, esta não é a tese dominante. O importante é salientar que o autor também encontrou uma Quimbanda que não é Umbanda, bem como denominou a Linha de Trabalho da Esquerda como Kimbanda. Existem terreiros que só praticam a Quimbanda, ou seja, só trabalham e atendem com entidades denominadas quimbandeiras. Alguns exemplos de entidades quimbandeiras são o Caboclo Pantera Negra, especializado em quebrar demanda e desmanchar trabalho, o Caboclo da Pedra Preta, Ubirajara do Peito de Aço, o Preto Velho Rei do Congo e, certamente, os Exus, as Pombagiras e os Mirins. Estes terreiros praticam o mal? Respondemos esta pergunta com outra pergunta. Existe terreiro de Umbanda que faz o mal? Existe igreja evangélica que faz o mal? Existe policial que faz o mal? Existe médico que faz o mal? Sim.Porém, sempre que encontramos pessoas que, no exercício de suas funções praticam a maldade, dizemos categoricamente que não são umbandistas, não são quimbandeiros, não são evangélicos, não são policiais, não são médicos. São qualquer outra coisa menos isto. CONCLUSÃO Para finalizar nossa abordagem, dizemos que kimbanda é a denominação do curandeiro africano angolano. Já quimbanda é uma palavra da língua portuguesa que possui três significados. O primeiro, a quimbanda é parte integrante da Umbanda constituída pelas Linhas de Trabalho de Esquerda, momento em que atuam os Exus, as Pombagiras, os Exus Mirins e as Pombagiras Mirins. O segundo entra na categoria de acusação. Quando um terreiro ou uma pessoa deseja acusar outro terreiro ou pessoa de praticar magia negra, diz-se que está praticando quimbanda ou que é quimbandeiro. Afirmamos que esta é uma interpretação equivocada do termo, contudo, demos preferência por informar do que deixar o estudante de Umbanda ignorante de todos os termos encontrados em seu meio de atuação. O terceiro significado encontrado é a denominação de um terreiro que só trabalha com entidades denominadas quimbandeiras. Pretos velhos quimbandeiros, caboclos quimbandeiros, bem como Exus, Pombagiras e Mirins. *Créditos e Texto:*Pai Aderito Simões *BIBLIOGRAFIA* CUMINO, Alexandre. História da Umbanda: uma religião brasileira. São Paulo: Madras, 2011.LOPES, Nei. Novo dicionário Banto do Brasil. Rio de Janeiro, Pallas, 2003.MIRADOR, Enciclopédia Britannica do Brasil. 3ª ed. São Paulo: Companhia Melhoramentos de São Paulo, 1979. NETO, Francisco Rivas. Escolas das religiões afro-brasileiras: tradição oral e diversidade. São Paulo: Arché Editora, 2012.PELLIZARI, Edmundo. Kimbanda e Quimbanda. Mimeo, 2010.PRANDI, Reginaldo. Mitologia dos Orixás. São Paulo: Companhia das Letras, 2001, 591 p.SARACENI, Rubens. Orixá Exu: fundamentação do mistério: Exu na Umbanda. São Paulo: Madras, 2011.SILVA, W. W. da Matta e. Segredos da magia de umbanda e quimbanda. 5ª ed. São Paulo: Ícone, 2001.TRINDADE, Diamantino Fernandes. Você sabe o que é Macumba? Você sabe o que é Exu?
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